Quarto Signature by Nuno André Ferreira

O projeto “Raízes e Marés” explora a dualidade entre o que já foi e o que persiste. Como fotojornalista, o meu trabalho sempre foi capturar o momento com precisão e rapidez, mas esta série exigiu uma abordagem diferente. Decidi afastar-me do digital e regressar ao processo analógico, com a intenção de tornar esta experiência mais pessoal e intemporal. As fotografias a preto e branco revelam as cicatrizes da paisagem e convidam o observador a um diálogo sobre a fragilidade da natureza e a passagem do tempo.

O Pinhal de Leiria, com a sua vasta extensão e história, foi uma fonte de riqueza, sustento e proteção para a região, uma paisagem moldada pela força dos elementos e pela mão humana. A tragédia recente dos incêndios devastou a floresta, alterando profundamente a relação entre o pinhal e as comunidades. Esta série fotográfica procura refletir o impacto dessa perda, utilizando o oceano Atlântico, que abraça a região, como símbolo de permanência e renovação.

Cada fotografia revela a paisagem no seu estado atual, sem esconder as marcas do incêndio, mas ao mesmo tempo evoca aquilo que o Pinhal de Leiria representou ao longo dos séculos. As árvores solitárias, as sombras densas e os campos que emergiram das cinzas assumem novas formas e sentidos a preto e branco. A escolha do analógico, com a sua textura e grão, confere profundidade a estas imagens, transportando-nos para uma realidade quase onírica, onde o presente e o passado coexistem num mesmo espaço.

Mais do que retratar uma destruição, esta série celebra a resiliência e o ciclo da natureza. A ausência de cor é intencional: ao remover o imediatismo do realismo, as imagens tornam-se reflexões visuais, permitindo que quem as observa projete as suas próprias memórias e experiências na paisagem retratada. O preto e branco capta algo além do visível – a memória do que o pinhal foi e o desejo de que ele um dia possa renascer.

Assim, esta coleção de imagens transforma-se em mais do que uma simples decoração para o quarto de hotel. Convida cada visitante a fazer parte da história do Pinhal de Leiria, a refletir sobre a relação entre o homem e a natureza e, acima de tudo, a perceber que, mesmo na perda, há beleza e força na renovação.